Fernano Pessoa foi um homem de muitas faces poéticas. Seus heterônimos deram a tônica de sua personalidade multifacetada, embora muitos acreditem que os poemas atribuidos heterônimos sejam psicografias, mensagens trazidas e ditadas “do além” por espíritos distintos.
Além disso, Pessoa, figura central do Modernismo de Portugal, foi ainda ensaísta, tradutor de diversos livros, trabalhou como publicitário, aventurou-se na astrologia e foi ainda empresário, correspondente comercial, crítico literário.
Sem valer-se dos seus heterônimos, e sendo, portanto, ele mesmo, escreveu poemas líricos e nacionalistas, discorrendo sobre as profundezas da natureza humana, falando de dor, sentimento e saudade.
No poema abaixo ele sobre o sentir e o não-sentir. Sobre a a dicotomia entre o pensar que vivemos e a vida em si mesma. Vale conferir esse poema do grande Pessoa:
Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.
Fernando Pessoa
Imagem de capa: Pixabay